crônica - padre Jozimo Moraes Tavares : presente - Manoel Messias Pereira

 

Padre Jozimo Moraes Tavares -presente

Na Santa Igreja Católica apostólica Romana, aprende-se, sobre a voz das grandes coisas criada, a voz da consciência e, a voz dos povos.

Entre as coisas criadas milhares e milhares de astros, estrelas, satélites e a própria terra, os oceanos, o deserto das flores o maravilhoso mundo que habitamos e que devemos cultuar os vestígios divinos. Dai o respeito a toda essa natureza.

Entre a voz da Consciência, cada um de nós sentimos que depende de Alguém que recebeu tudo e ao qual deverá dar conta de tudo um dia. E esse Alguém não são os nossos pais, nem outros homens como nós, é o próprio Deus Criador. Essa é a lei moral é a voz da consciência.

E a voz do povo, é o reconhecimento da existência do Criador. O espírito perfeitíssimo, eterno e conserva o mundo e todas as criaturas, governada com sua infinita bondade. E a religião é um vínculo que só pode existir da criatura em relação a ele Deus criador.

O que seria uma Igreja, senão o local em que cada ser humano, pudesse ir, imbuído da crença deste Deus, como criador da vida. E tendo a Igreja como a Casa em que todos compartilham o segredo eucarístico da transformação do vinho no sangue de Cristo e do pão no corpo de Cristo. O momento místico em que todos comungam, e participam da Santa Ceia de maneira simbólica, verdadeira estabelecida a partir de sua fé.

E permita-me relembrar, que na Igreja de São Sebastião de Tocantins, em que foi vigário Jósimo Moraes Tavares, um religioso coordenador da Comissão Pastoral da Terra. E que em 10 de agosto de 1985 denunciou na X Assembleia Anual da Comissão da Pastoral da Terra de Goiânia, os fazendeiros Osmar Teodoro da Silva, o Nenê vereador do PMDB em São Sebastião de Tocantins, Sr. Wilson Nunes Cardoso e Arlindo Gomes da Silva.

E na data do dia 10 de maio de 1986 na sede da Comissão Pastoral da Terra em Imperatríz -MA, quando subia as escadas do prédio da diocese, foi alvejado com dois tiros, dados pelo pistoleiro Geraldo Rodrigues da Costa.

A ficha corrida do assassino indicava que era um jovem senhor de 31 anos de idade na época, ourives de profissão e que já tinha envolvimentos com a polícia por assalto, mas foi contratado pelo vereador do PMDB, seu Osmar Teodoro da Silva o Nêne. Através do amigo de Nenê Senhor Wilson. E Geraldo o jovem assassino num encontro regado a cerveja acertou na época o preço de 20 mil cruzados para dar cabo ao padre.

Vale informar que o padre alvejado e morto, já havia sido vítima de outro atentado, ou seja era um padre marcado para morrer, isto no dia 15 de abril quando deixou uma carta denuncia relatando isto durante o Tribunal da Terra realizada em Belém. E na oportunidade padre Jósimo escrevera "Entendo que esse atentado se põe dentro do contexto social da região em seu aspecto de luta pela posse da terra. Os lavradores do Bico do Papagaio, vindo de vários Estados do Brasil, há muito anos resistindo em pedacinho de terra. Estão enfrentando, sob risco de vida, a violência das grilagens e o roubo das terras."

Mas padre Josimo segundo consta já havia sido ameaçado dentro da própria instituição religiosa, conforme documento da TFP -Tradição Família e Propriedade conforme artigo publicado na revista da TFP e também acusado pela associação Rural dos fazendeiros de Augustinópolis. Havia uma alegação de que o padre e um freire de nome Lourdes foram os mentores intelectuais de uma emboscada em que morreu um fazendeiro e por isto ambos acabaram presos. O advogado do padre Josimo foi Dr. Luiz Eduardo Greenhalgh, que patrocinou uma ação de responsabilidade civil contra a União e contra o Estado de Goias em nome da mãe do padre Josimo. Uma mãe geralmente na Igreja é visto como Maria Santíssima, mas que teve o seu filho não crucificado como Maria. Mas a mãe de padre Jósimo a dona Olinda no dia das mães recebeu seu filho como defunto alvejado por tiros de pistoleiro, como presente do "dia das mães".

E a União chega a seguinte conclusão de que o responsável pela morte de padre Josimo, foi apenas ele padre Josimo. E com certeza assassinos, do religioso, seguem uma mesma tradição, são filhos da de fé do mesmo Cristo. Olha com o olhar de piedade em frente ao altar. Mas com certeza com todo o ódio e rancor do seu próximo esquecendo com certeza todas as pregações provindas das palavras de salvação da Santa Igreja.

A vida que cada ser humano, que luta com a vida, que pensa na construção de uma nação de paz e harmonia, parte do princípio de um processo de consciência social. O mundo precisa ser sempre visto de forma em que todos possam gozar de um bem estar coletivo, em que todos possam ter casa, liberdade, terra, pão na mesa e o vinho sem precisar falsificar o momento eucarístico. Pois toda a falsificação é um desrespeito a própria Igreja e a própria vida em que todos dizem ter. Sem deixar a ideia da posse individual, da riqueza de todos.

Sem deixar de usar as instituições políticas em favor deste capital, que mata, que assassina, que destemidamente estabelece a violência no campo e na cidade, não haverá a harmonia sonhado. É preciso caminhar sempre dando passos do lado do coração. Para que haja mães recebendo abraços de seus filhos, sorrisos, flores. E não velórios, estabelecidos segundo critérios político-sociais e muitas vezes com caráter até religioso. Óbvio falsamente. Do contrário o segredo eucarístico das Igrejas são apenas falsidades ideológicas. Pois o amor deve ser tarefa do dia a dia. De todos os minutos, de cada respirar humano. Só assim, podemos por o nosso olhar diante do altar.

Santo Agostinho dizia que o que importa verdadeiramente na história, não é a grandeza transitória dos impérios mas a salvação e a condenação num mundo que há de vir. E essa perspectiva agostiniana para a compreensão presentes e passados e a consumação final do futuro o juízo final e a ressurreição.


A vida para quem acredita, não é passageira ilusão. E a morte se torna bendita. Porque é nossa libertaçao. O padre Jósimo, negro, que usava sandálias de couro, que seguia a teologia da libertação, tornou-se herói com a sua morte assim como o caso de outras pessoas como Dorothy Stang, segundo a crença católica voltou para a casa paterna, assim como todos lá encontrarão onde estarão no Céu sem tristeza, sem doença, sem a dor e o prêmio da fé a certeza de viver feliz com o senhor. Enquanto por aqui a luta continua, como uma semente colocada que fecundará é a luta em favor dos oprimidos. Num ofício divino das comunidades.

Manoel Messias Pereira
cronista, poeta, professor de história
Membro do Conselho de Cultura para assuntos Afro/Indígena
Membro do Coletivo Minervino de Oliveira de São José do Rio Preto-SP
Membro da Central de Movimentos Populares - CMP - São José do Rio Preto-SP
Membro da Academia de Letras do Brasil-ALB São José do Rio Preto-SP/Uberaba-MG. Brasil.



Comments