Artigo - Milton Santos - Manoel Messias Pereira

 




Milton Santos

A data de 3 de maio de 1926, marca o nascimento de Milton de Almeida Santos, na cidade de Brotas de Macauba-BA, filho de dona Adalgiza Umbelino de Almeida Santos e de Sr. Francisco Irineu dos Santos, região da Chapada Diamantina, mas depois foi se mudando para Ubaituba, Alcobaça e Salvador.

Foi um garoto, que por ter pais e avós como professores primários, aprendeu cedo álgebra e a falar francês. Aos 10 anos ingresso no internato do Instituto Baiano de Ensino e foi lá que conheceu o professor Oswaldo Imbassay, que levou-o a interessar por geografia, disciplina que acompanhou por toda a vida.Com apenas 13 anos já ensinava matemática no Instituto, e com 15 anos começou a lecionar geografia. Ao terminar os estudos ginasiais fez o curso pré jurídico entre 1942 e 1943, prestou vestibular para Direito na Universidade Federal da Bahia em Salvador, e formou-se em 1948.Porém prestou concurso para professor no Colégio Municipal de Ilhéus.

Como estudante e como universitário, sempre foi um ativista de cunho socialista. Em Ilhéus além de ter trabalhado como professor também foi jornalista. Brasilianos já com influencia da escola francesa voltados para a geomorfologia e os aspectos climáticos. Sua carreira acadêmica começou em 1956 na Universidade Católica de Salvador. E no Congresso Internacional de geografia ocorrido no Rio de Janeiro foi convidado a fazer o doutorado em Estramburgo com a tese "O Centro da cidade de Salvador" sobre a orientação de Jean Tricort.

Ao regressar ao Brasil criou o Laboratório de geomorfologia e estudos Regionais, mantendo o intercâmbio com mestres franceses. Tornas-se livre docente da Universidade Federal da Bahia.

Em 1961 viaja a Cuba como editor do Jornal "A Tarde" acompanhando o presidente da república do Brasil o professor Jânio da Silva Quadro. O presidente chamou para ser subchefe da casa civil na Bahia e ele aceitou e ficou num curto mandato.

Em 1964 com o advento da ditadura civil e militar que abateu sobre toda o pensamento brasileiro, vimos que Milton Santos acabou sendo preso e levado para o 19 BC na Cabula onde seus amigos e iam diariamente visitá-lo. Porém devido a um AVC acabou sendo levado a um hospital depois disso solto. Ele cumpriu um ano e meio de prisão depois acabou indo embora do Brasil, pois tinha convites do mundo inteiro para trabalhar

No Exterior trabalhou na Universidade de Toulouse -Le-Miroul a atual Universidade Toulouse Jean Jaurès. depois mudou para Boudeaux, também trabalhou em Paris, lecionou na Sorbone, Foi diretor de Pesquisa do Instituto em Planejamento urbano d'Edute du Developpemed Economique et Social (IEDES). Depois foi para o Canadá trabalhou na Universidade de Toronto, mais tarde em Massachusstes (MIT) nos EUA, onde conheceu e trabalhou com Noam Chomsky, trabalhou na Tânzania, Nova York , Venezuela e retornou ao Brasil em 1976

Por sua trajetória dentro e fora do Brasil recebeu o Prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud, conhecido como o Nobel da Geografia, mas também há outros grandes prêmios como por exemplo o Prêmio Jabuti de Literatura pelo Livro Ciências Humanas por A Natureza do Espaço- Técnico e Tempo, Razão e Emoção. Em 1995 foi Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico 1995. Foi um doutor Honóris Causa em aproximadamente quinze universidades tanto brasileira como internacional como da argentina, da França, da Espanha. Foi Consultor da Organização da OIT, da OEA, da Unesco, da CNPQ, da Secretaria Educação Superior (SESU/MEC) e da Fundação de Amparo Pesquisa Estado de São Paulo-Fapesp.

Há aproximadamente uns 20 anos li uma matéria publicada na Folha de São Paulo, pois foi no final de 1999, em que o economista Gilberto Dupas e Milton Santos estabeleciam as suas opiniões sobre o processo de globalização e o impacto que isto trazia sobre os países em desenvolvimento. Quando Dubas disse na oportunidade que a Globalização é um estágio prejudicial para todos os países do planeta mas seus efeitos são marcantes nos países menos desenvolvidos. E ainda que a principal diferença entre os países desenvolvidos os países periféricos consistia no domínio do desenvolvimento de inovações tecnológicas. Elas determinariam as variáveis económicos e aprofundariam as desigualdades sociais nos países menos desenvolvidos. E a exclusão social começa a provocar sintomas de erosão da legitimidade da representações políticos que sustentam os programas de reforma nos quais se baseiam o processo de globalização. E que o aumento do emprego da tecnologia na indústria permitiu que as empresas transnacionais "despedaçassem", o processo produtivo de forma a aproveitar as vantagens que cada país oferece, o que aumentou consideravelmente o seu poder de barganha em relação aos países desenvolvidos.

Milton Santos, afirmou neste contexto que a globalização não passa de uma fase de transição e não está ai para durar. É apenas transição. Ele reconhece a importância das inovações tecnológicas para atender o efeito da globalização nos países, mas que essa não tem a supremacia sobre a vontade política do Estado. e ele disse ainda não creio que a economia seja o fator econômico. Porém os principais fatôres econômicos considerados na tomada de decisões. Esse papel é o da política, incluindo a politica das empresas. As análise que partem das possibilidades de economia liderar o processo me parece insuficientes para penetrar o futuro. No seu Livro "Por outra globalização", o autor fala do processo de Globalização como fábula, como perversidade e como possibilidade.

Como fábula, ele escreve, vivemos num mundo confuso e confusamente percebido. Haveria nisto um paradoxo pedindo uma explicação? De um lado, é abusivamente mencionado o extraordinário progresso das ciências e das técnicas, das quais um dos frutos são os novos materiais artificiais que autorizam a precisão e a intencionalidade. De outro lado, há, também, referencias obrigatórias à aceleração contemporânea e todas as vertigens que cria, a começar pela própria velocidade. Todos esses porém são dados do mundo físico fabricado pelo homem, cuja utilização, alias, permite que o mundo se torne esse mundo confuso e confusamente percebido. Explicação mecanicista são, todavia, insuficientes. É a maneira como, sobre essa base material, se produz a história humana que é a verdadeira responsável pela criação da torre de babel em que vive a nossa era globalizada. quando tudo permite imaginar que se tornou possível a criação de um mundo veraz, o queriam posto aos espíritos é um mundo de fabulações que se aproveita do alargamento de todos os contextos.

Como perversidade ele escreve que de fato a maior parte da humanidade globalização está se impondo como uma fábrica de perversidade. O desemprego crescente torna-se crônico. A pobreza aumenta e as classes médias perdem em qualidade de vida. O salário médio tende a baixar. A fome e o desabrigo se generalizam em todos os continentes. Novas enfermidades e como AIDS se instalam e velhas doenças, supostamente extirpadas, fazem seu retorno triunfal. A mortalidade infantil permanece, a despeito dos progressos médicos e da informação. A educação de qualidade é cada vez mais inacessível. Alastram-se e aprofundam-se mais espirituais e morais, como os egoísmos, os cinismos, a corrupção.

Como possibilidade ele escreve que podemos pensar na construção de um outro mundo, mediante uma globalização mais humana. As bases materiais do período atual são, entro outras, a unicidade técnica, a convergência dos momentos e o conhecimento do planeta. É nessas bases técnicas que o grande capital se apoia para construir a globalização perversa do que falamos. Mas essas mesmas bases técnicas poderão servir a outros objetivos, se forem postas a serviço de outros fundamentos sociais. Parecem que as condições históricas do fim do século XX apontavam para outras possibilidades. Tais novas condições tantos se dão no plano empírico quanto no plano teórico

E neste plano teórico o que verificamos é a possibilidade de produção de um novo discurso ganha reelevância de uma meta-narrativa, um novo grande relato. Esse novo discurso ganha relevância pelo fato de que, que pela primeira vez na história do homem, se pode constatar a existência de uma universalidade empírica. A universalidade deixa de ser apenas uma elaboração abstrata na mente dos filósofos para resultar da experiência ordinária de cada homem. De tal modo , em um mundo datado como nosso, a explicação do acontecer pode ser feita a partir de categorias de uma história concreta. é isso também que permite conhecer as possibilidades existentes e escrever uma nova história.

Quando o Sindicato dos Professores da rede Oficial do estado de São Paulo, Apeoesp, organizou o seu coletivo anti Racismo colocou o Nome de Coletivo Anti racismo Milton Santos, pois haviam numa Conferencia convidado o geógrafo para uma palestra principal, porém devido o estágio de saúde do professor que estava com câncer. E num outro momento em 25 de junho de 2001 quando reuníamos na sede da Apeoesp em São Paulo quando chegou a noticia do seu velório pois havia falecido dia 24 de junho . Com isto batizamos com o nome do geógrafo. e acompanhamos o seu velório na Igreja de Nossa Senhora dos Homens Preto no Largo do Paissandú em São Paulo.

Quando da minha nomeação para a cadeira da Academia de Letras do Brasil, escolhi como meu eterno patrono Milton Santos, primeiro pelo exemplo de ser humano, intelectual, que sempre teve um compromisso com o desenvolvimento, com a urbanização, com a humanização do homem no espaço geográfico e no respeito ao ser humano, muito além do capital, da propriedade, mas sim da vida humana.







Manoel Messias Pereira

professor, cronista e poeta
Membro do Coletivo negro Minervino de Oliveira-São José do Rio Preto-SP.
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
Cadeira 23 - São José do Rio Preto-SP.


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