Crônica - A espera de uma aprazível realidade - Manoel Messias Pereira

 



A espera de uma aprazível realidade



A vida nossa tem duas coisas que nos movem, uma é o medo e outra é a coragem. Quando era criança tinha medo de ficar sozinho, com fome, com sede, sem meus país. E depois com medo de me perder, mas aprendi a ter a coragem de caminhar, de procurar alimentar-me, de tomar água e conduzir-me no quintal, nos caminhos, nas florestas, nas ruas.

E toda essa experiência de criança cresce e te acompanha no processo da adolescência. Eu nunca notei muito esses períodos até por que tinha que entender que a vida está aqui pra viver, para ser encarada. E desde cedo observei, que tinha uma vida de dificuldade para seguir. 

Na escola agente ia, para estudar. Livros a gente lia não aqueles que estva preparados para a gente comprar. Recordo que no meu primeiro ginasial o que corresponde hoje ao sexto ano, tinha apenas o livro de português. E recordo que um professor trouxe-me o dele que estava usado para que pudesse adquirir ou quem sabe me doar. Porém recordo que disse minha mãe já comprou. Das outras disciplinas obvio que não tinha. Mas como todos sabem nasci com olhares aguçados, e podia frequentar a igreja do do São Judas Tadeus, onde desenvolvia uma campanha intitulada "tudo serve" em que lá encontrava livros, de matemática, de geografia e de história. Além de romances, revistas, com fotonovelas, assuntos sobre cinema. Passei a conhecer artistas, musicas e teatro. Era um tempo penso de formação. Na minha casa todos não tinham estudos. O que aprendia logo saia com a minha avó e ia conversando com ela.

A conversa entre neto e avo rendia, um pouco da experiência dela, que contava a história da família, coisa que até hoje eu tento falar com outros membros da casa mas percebo que não foram instruídos sobre isto. E assim eu comentava um pouco da história falava um pouco da politica, as vezes ela ria, as vezes ficava sisuda.

Nunca esqueço que além de conversar sobre todos os assuntos, ainda apresentava a ela um mundo que ela não percebia. E sofria muito, recordo que ela disse  que lá no Gigantão, que era um armazém que havia no bairro da Vila Diniz alguém entregaria arroz para as pessoas menos favorecida. E ela falou vamos nós dois eu pego e você também. Entrei na fila, porém um desgraçado que estava distribuindo para  nós os outros desgraçados pobres que íamos ficar naquela  imensa fila disse:

-Para criança não!

Afastei e deixei ela pegar e ela jogou debaixo da saia. Eu me abaixei e fiquei com aquele saquinho de arroz.  Eu dei a sacola e disse pega e fala que a senhora não ganhou. E ela fez. 

O miserável disse;

- já entreguei

 ela falou:

Cade? É  cada o arroz estava nos meio da perna dela.  Eu bem que peguei a sacolinha e saímos dali. E ela disse são todos desgraçados mesmo. Se tivessem uma politica melhor Brasil  não precisa mendigar pois isto daqui é país rico. E eu concordei com ela.

Por isso sou do Manda Brasa. E foda-se e ri a vontade, gargalhando. Pois minha mãe não estando perto podia xingar.  E minha vó além de falar o xingamento dela falava umas palavras em francês assim  bem estranho va chier tes politiciens cocu de l'enfer, que nem sei o que ela falava. Mas assinava tudo com minha doces gargalhadas.

Vivi numa desgraça toda, mas sempre com muita coragem para vencer. Minha mãe quando estava nervosa dizia que não tinha nada que comemorar, que ia crescer trabalhar não poderia casar, não ganharia suficiente. E pensando nisto as vezes ficava triste, mas pensava. O que tiver que acontecer vou encarar. E deixa a vida me levar.

Pensava que não vou beber, não vou fumar, não vou brigar com ninguém pois o meu porte físico seria para só apanhar. Mas sabia ler escrever. Sabia entender a vida. Aos nove anos decidi ser professor. E pensei vou lutar para isso.

Como tinha que ler uns poemas fora do contexto que vivia. comecei a escrever e a narrar meus dias e ler quando todo mundo estava reunidos. E as observações eram motivos de uns ficar bravos e de todos rirem.

Minha mãe dizia o que você precisa era plantar alguma coisa. Pois quem planta o vento colhe a tempestade. Imaginava eu dominando a tempestade. E assim plantei um olhar sobre o mundo sobre a vida. Sobre a escola, sobre a arte sobre a poesia. E parti disto comecei a elaborar o meu plano de vida de jovem para ser o adulto que resolvi ser. Foi apenas um ser humano melhor. 

Portanto eu guardei a ideia do medo no recuo e do encarar na coragem e vamos nós. O país é nosso e  nós sempre trabalhamos, para manter o nosso elo social, como empregados, como prestadores de serviços e criadores de sonhos e sonhamos a cada dia. E assim não planto vento mas sonho e quero com certeza uma realidade melhor para todos os seres humanos, que vive aqui e em outras partes do mundo.


Manoel Messias Pereira

professor, poeta

São José do Rio Preto- SP. Brasil



Comments