Texto do El País - Pobreza extrema será a mais alta dos vinte anos na América Latina - Rocío Montes e Ignacio Fariza


Santiago / Madri - 04 MAR 2021 - 15:49

pandemia da covid-19 aprofundou as já enormes desigualdades estruturais da América Latina e do Caribe. Num momento de “elevada incerteza, em que ainda não estão delineadas nem a forma nem a velocidade de saída da crise”, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) calcula que a pobreza extrema, a forma mais intensa de escassez, na qual nem as necessidades básicas são cobertas, terá chegado ao nível mais alto desde 2000. Um em cada oito latino-americanos (12,5%) vive agora nessa situação, mais de um ponto percentual a mais que há um ano, quando a crise de saúde era uma opção remota, e quase cinco pontos a mais que em 2014, quando a cifra atingiu seu ponto histórico mais baixo (7,8% da população). Antes da covid-19, a porcentagem de pessoas nessa situação já vinha crescendo de forma contínua havia cinco anos. O vírus, no entanto, foi a gota d’água para desatar essa preocupante tendência.

As medidas de proteção social de emergência adotadas em praticamente toda a região contribuíram para aliviar o duríssimo golpe do coronavírus sobre as sempre voláteis estruturas econômicas e sociais latino-americanas. Mas não impediu um aumento igualmente notável da pobreza moderada, que no final de 2020 afetava um em cada três habitantes da região (33,7%), mais de três pontos percentuais a mais que um ano antes. É preciso voltar a 2006, auge do “superciclo” das matérias-primas, que permitiu que vários Governos latino-americanos implementassem uma inédita série de medidas sociais, possibilitando uma drástica melhora na qualidade de vida para milhões de pessoas, que ampliaram a base da classe média.

A região da América Latina e Caribe é uma das mais afetadas pelo coronavírus, tanto em número de casos como de mortes. Com pouco mais de 8% da população mundial, contabilizava até dezembro de 2020 quase 20% dos contágios e mais de 25% de mortes em escala global. Cifras “tremendas”, nas palavras da secretária-executiva do organismo, Alicia Bárcena. A tragédia levou a uma crise econômica e social sem precedentes, agravada por problemas históricos como a inequidade (a região continua sendo a mais desigual do mundo), a informalidade no trabalho (indicador em que também é líder global), a desproteção social e a vulnerabilidade. Um terreno fértil que amplifica qualquer choque e seus efeitos negativos sobre as camadas menos favorecidas da sociedade, como afirma o Panorama Social 2020, apresentado nesta quinta-feira em Santiago (Chile) pelo braço das Nações Unidas para o desenvolvimento latino-americano.

Com uma curva demográfica que ainda esboça uma inclinação positiva, em termos absolutos as cifras são ainda mais impactantes. Segundo a CEPAL, o número total de pessoas pobres chegou a 209 milhões no final de 2020, 22 milhões a mais que no final do ano anterior. Desse total, 78 milhões estavam em situação de extrema pobreza, oito milhões a mais que em 2019.

Oito em cada 10 latino-americanos vivem hoje em situação de vulnerabilidade, com renda equivalente a três ou menos de três salários mínimos. Todas essas tendências se intensificam nas zonas rurais e nas de maior prevalência de população indígena.

 

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