Há Cento e Cinquenta anos da Comuna da Paris
Esse ano de 2021, estamos completando 150 anos da Comuna de Paris. Esse fato que historicamente é de uma importância fundamental, para a compreensão da montagem de um sistema político social, que alguns tem a crença de que é algo que surgiu naturalmente negando assim a luta de classe que apresenta-se em desigualdade explicita entre patrão e empregado, entre toda organização da ditadura burguesa, em que assistimos uma democracia relativa em que a participação das decisões são feitas por uma minoria da elite representativa. E não da representação das massas populares.
E isto permite contar essa história como um ponto de reflexão. E com isto tenho as mãos um livro de historia contemporânea escrita por V. Justov e I i Zubok, e essa obra traz a informação de que na noite de 17 para 18 de março de 1871, na França as tropas governamentais marcharam em direção às colinas de Montmarte, situada na parte norte de Paris, com o objetivo de apoderar-se dos canhões colocados ali pela Guarda Nacional. E ao amanhecer, as tropas chegaram até Montmartre, depois de haver atravessado as ruas desertas da capital, sem ter encontrado obstáculos algum em seu caminho.
Essa forma como aqui estou descrevendo é quase fiel estes autores, óbvio que utilizando outro texto outras expressões mas entenda que eles confessam que o pequeno destacamento da Guarda Nacional, que custodiava os canhões foram dominados. E os canhões ficaram nas mãos dos soldados. Porém, estes não foram capazes de retirá-los dali. Faltavam a cavalgaduras, que somente chegaram muito depois em torno das oito horas da manhã. Enquanto isto o fato de terem dominados os membros da guarda nacional e apoderarem dos canhões espalharam por toda a cidade. A sua frente colocou-se toda uma multidão que dirigiu-se para a colina, e acompanhada por um grande número de mulheres. Uma coluna que chegou ao alto da colina e se encaminhou ao encontro dos soldados dispostos em linha.
O general Lecomte deu a ordem de abrir fogo sobre a multidão. Porém, de repente, adiantou-se um suboficial e gritou:
-Ombro armas!
E os soldados, fazendo caso omisso da ordem do general, negaram-se a atirar contra o povo.
Lecomte, novamente ordenou:
-Fogo!
Porém nesse momento acabou sendo preso. Os soldados começaram a confraternizar com os guarda nacionais e Montmartre, com seus canhões, continuou em poder da Guarda Nacional.
Marie Joseph Louis Adolphe Thier das forças governamentais não tardou em compreender que seria tarefa difícil desarmar Paris revolucionária. Ordenou imediatamente a retirada de Paris dos restos do exército regular e toda pressa dirigiu-se a Versalhes para dedicar a tarefa de reunir ali as forças necessárias que lhe permitissem empreender a luta contra a capital.
Ao anoitecer deste mesmo dia todas as dependências do aparelho do Estado foram ocupadas pelos destacamentos da Guarda Nacional. No alto dos edifícios da Municipalidade e do Ministério da Guerra flamejavam as bandeiras vermelhas. E a 150 anos portanto no dia 18 de março de 1871 deflagrou-se a primeira Revolução proletária do mundo. Pela primeira vez na história era derrubado o poder da burguesia. O que chamei de montagem de um sistema politico da ditadura da burguesia como aliás conhecemos bem observando o Brasil.
E o poder passou pela primeira vez às mãos do Comitê Central da Guarda Nacional, eleito pelos operários e artesões revoltados, em armas, na capital. E assim começou a guerra civil entre proletários e a burguesia.
E o que faltou neste momento, foi a organização de um partido politico revolucionário, capaz de orientar com segurança. E com isso uma série de erros o CC da Guarda Nacional vai cometer. Começando por não saber aproveitar até as últimas possibilidades, a vitória de 18 de março, e lançar de uma vez por toda uma ofensiva para destruir todo o ninho de cobra de contra revolucionários, enquanto Thier ainda não havia reunido uma resistência. Outro erro foi o seu exagero prejudicial em ter no poder um órgão eleito. E neste momento o CC declarou que considerava provisório o poder investido anunciando que se esse poder terminaria assim que realizasse as eleições gerais para a Constituição do Conselho da Comuna de Paris.
E assim no dia 26 de março de 1871 ocorreram as eleições para o Conselho da Comuna. Dos 85 candidatos eleitos, 21 deles, tinha sido pelas barricadas burguesas, mostraram inimigos da Comuna, e bem depressa abandonaram. Dos restantes trinta eram operários, e os demais eram representantes da intelectualidade democrática, empregados, médicos, professores, jornalistas. Enfim o Conselho representava o conjunto dos setores do trabalho de Paris. Os operários desempenharam o papel dirigente. E assim no dia 28 de março foi proclamada a Comuna. Em ato solene o grandioso, o povo de Paris consagrou a conquista do poder pela classe operária.
A praça da municipalidade e as ruas adjacentes estavam cheias de povos e de tropas da guarda Nacional. Assim instalaram o Comitê Central da Guarda nacional e os membros da Comuna.
O Conselho da Comuna estava integrados por uma composição que entravam blanquistas, proudhonistas e neo-jacobinos. Esses últimos eram democratas pequeno-burgueses, se bem que, em geral, agissem em comum acordo com os blanquistas, constituindo os dois grupos a maioria do Conselho da Comuna. Já a minoria correspondiam aos proudhonistas. A luta de grupos debilitava, desde logo o organismo.
O papel dirigente no seio da maioria era assumido pelos blanquistas. Esses tinham em suas mãos a direção da defesa de Paris, e a luta contra revolução. Do mesmo que os jacobinos, os blanquistas eram partidários de uma vigorosa ditadura revolucionária. Entretanto eram bastante frágil a sua vinculação com a classe operária. E entre os blanquistas destacou-se o jovem Raul Rigault, que tomou o caminho da luta implacável contra os inimigos da revolução. Respondendo as atrocidades dos versalheses e também aplicou o chamado terror de classe. Enquanto que os proudonistas manifestaram -se contra a aplicação do terror contra os inimigos da revolução e negava a necessidade da ditadura revolucionária.
É óbvio que a Comuna, não podia utilizar o velho aparelho estatal burguês da França. como de todo o burguês esse aparelho tinha sido adpatado e educado para a opressão da classe trabalhadora. Depois de 18 de março uma parte dos funcionários "os puxas" fugiram para Versalhes, enquanto que os que permaneceram em seus postos responderam ao novo poder com sabotagem, utilizando todos os meios para impedir que a Comuna pudesse normalizar o aparelho administrativo.
E assim o operário Theisz dos Correios percebem que todos os escritórios ficaram fechados e houve sabotagens nas estradas de ferro. E ao perceber isto a questão era mesmo romper com o velho aparelho de estado.
O primeiro decreto da Comuna foi dissolver o Exército e substituir pela Guarda Nacional. E o Conselho da Comuna era o órgão supremo do Estado. E todos os eleitos foram diante do voto universal. E assim oram também criadas Comissão de Finanças, de Abastecimentos, de Saúde Pública e na frente de cada uma delas gente do Conselho da Comuna. E deste modos os próprios membros do Conselho eram também os executores da Lei. E os funcionário do novo Estado recebiam uma remuneração igual ao salário médio de um operário. A velha policia foi liquidada. Os próprios operários em armas eram encarregados de manter a ordem na cidade. A igreja foi separada do Estado e os Conventos transformados em clubes populares.
A Comuna realizava seus trabalhos apoiando-se nos operários nas organizações sindicais e nos clubes revolucionários. As mulheres operarias prestavam uma grande ajuda à Comuna, participando ativamente, entre outras atividades da defesa de Paris conta os versalheses,
Sob o comando de Luiza Michel um batalhão feminino tomava parte nos combates. Toda a atuação da Comuna foi testemunho de que ela constituiu realmente um novo tipo de Estado. Um Estado proletário. Eu creio que Paris foi o germe que serviu de modelo para o Poder Soviético.
A Comuna viveu 72 dias e desde o principio de sua existência teve que travar lutas contra os versalheses. e isto talvez que barrou um pouco o desenvolvimento sócio econômico, mas assim mesmo a Comuna conseguiu realizar e demonstrar sua profunda preocupação com os trabalhadores.
Todas as empresas cujo os donos tinham fugidos de Paris foram confiscadas e postas nas mãos dos operários, houve a elaboração do plano de produção feita pelos operários e antigos proprietários das oficinas. A comuna baixou um decreto proibindo patrões de aplicar multas aos empregados, foram devolvidos todos os objetos emprenhados para pagamentos dos alugueis. Foram abertas novas escolas e aumento de salários aos professores, com criação de creches e jardim da infância.
Porém em 10 de maio de 1871, sabiamente que os traidores da patria assinaram em Frankfurt-sobre-o-Meno, um tratado de Paz com Bismarck. Assim a Alemanha arrebentava a França as províncias de Alsácia e Lorena , devendo receber, além disso uma contribuição estipulada em cinco bilhões de valores-ouro. Na verdade era um acordo para lutar contra os Comunas, uma flagrante violação das clausulas do armistício. E assim Otto Bismarrck através da linha prussiana autorizava a passagens de soldados para que pudessem assentar as forças federadas. E assim em 21 de maio de 1871, teve uma luta terrível nas ruas de Paris. A luta ocupava cada rua, cada casa cada palmo de terreno, e teve 10.000 operária socorrendo os feridos, levantando barricadas e combatendo nelas. E Loise Michel em suas memórias fala do combate corpo a corpo, com sabres, com baionetas, com golpes de culatras. E ao cair da noite de 21 maio apenas um pequeno grupo de sobrevivente dos heroicos defensores de Paris, que foram cercados e fuzilados junto aos muros dos cemitérios.
Foram trinta mil comunardos assassinados, conta Arthur Arnould que os cadáveres cobriam as ruas da cidade ao longo de milhares de metros com charcos de sangue.
Foi a primeira revolução operária. É certo que não conseguiram a vitória. Vale entender que a classe operária não tinha um grau de maturidade alcançada. Faltava um Partido Revolucionário capaz de levar a luta vitória contra a burguesia. Acomuna teve de sustentar a luta nos limites do território de Paris, cercado. Circunscrito pelas forças inimiga. Porém assim como Marx eu também passo a admirar essa massa trabalhadora, e como a expressão de Karl Marx os comunardos tomaram de assalto o céu. Ou como disse Lênin a comuna ensinou o proletário europeu a colocar de maneira concreta as tarefas da revolução socialista. Experiência que pode ser aproveitada pelo povo russo.
Manoel Messias Pereira
membro do Coletivo Negro Minervino de Oliveira- são José do Rio Preto
membro da Academia de Letras do Brasil -ALB São José do Rio Preto-SP.
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