Arte - Os 80 anos de José Carlos Capinam

poeta Jose Carlos Capinam
Nascido em Esplanada -BA em 19 de fevereiro de 1941
filho de dona Judite 
Ponteio Musica de Capinam e Edu Lobo
Jose Carlos Capinam, poeta, ator, dramaturgo, formado em Direito, médico, com trilhas sonoros em filmes um artista completo

Letrista. Poeta. Escritor. Publicitário. Jornalista. Médico. Filho de Osmundo Capinan e Judite Bahiana Capinan com mais 12 irmãos. Começou a escrever poesia aos 15 anos. Em 1960, mudou-se para Salvador, iniciando o Curso de Direito na Universidade Federal da Bahia. Por essa época, estudando também teatro no Centro Popular de Cultura, ligado à UNE, conheceu Caetano Veloso e Gilberto Gil, ambos cursando as faculdades de Filosofia e Administração de Empresas, respectivamente. Atuou na peça "Os fuzís da Senhora Cará", de Brecht, dirigida por Álvaro Guimarães.  No ano de 1963, escreveu e estreou a peça "Bumba-meu-boi", musicada por Tom Zé. No ano seguinte, em 1964, formou-se Artes Cênicas e Direito. Com o golpe militar, foi forçado a deixar Salvador, transferindo-se para São Paulo, indo trabalhar como redator publicitário na agência Alcântara Machado. Por essa época, conheceu Geraldo Vandré (que fazia jingles para a agência), além de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal (do Teatro de Arena) que o levaram para o meio musical de São Paulo. Logo depois foi apresentado a Edu Lobo. Participou ativamente dos movimentos culturais da década de 1960: Centro Popular de Cultura (CPC), Feira da Música (Teatro Jovem, ao lado de Paulinho da Viola, Caetano Veloso, Torquato Neto e Gilberto Gil) e Tropicalismo, com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Os Mutantes, Nara Leão, Torquato Neto, Rogério Duarte, Rogério Duprat e Gal Costa. Em 1965, foi coautor, com Caetano Veloso e Torquato Neto, do musical "Pois É", com Gilberto Gil, Maria Bethânia e Vinicius de Moraes, no Teatro Opinião, no Rio de Janeiro. Compôs com Caetano Veloso a trilha sonora do filme "Viramundo", de Geraldo Sarno, que contou também com a música-título "Viramundo", esta, composta em parceria com Gilberto Gil. No ano seguinte, em 1966, publicou o livro de poemas "Inquisitorial". Em seguida, voltou a Salvador, onde cursou Medicina, profissão que chegou a exercer por algum tempo. No ano posterior, em 1967, com Torquato Neto, escreveu o programa de televisão "Vida, Paixão e Banana do Tropicalismo", interpretado por Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa, sob a direção de José Celso Martinez Corrêa. Na década de 1970, foi coeditor ao lado de Abel Silva, da "Revista Anima". Em 1973, dirigiu e produziu o show de Gal Costa e Jards Macalé, no teatro Oficina, em São Paulo, e o espetáculo "Luiz Gonzaga, o Rei do Baião", no teatro Teresa Raquel, no Rio de Janeiro. No ano de 1976 publicou poemas na antologia "26 poetas hoje", organizada por Heloísa Buarque de Hollanda. No ano seguinte, lançou pela editora Macunaíma "Ciclo de navegação Bahia e gente". Em 1982 formou-se em Medicina, pela UFBA. Dois anos depois, estruturou a TV Educativa da Bahia, criando diversos programas para seu lançamento e em 1985 atuou como diretor da emissora. Em 1986 foi nomeado Secretário Municipal da Cultura, de Camaçari (BA), passando a integrar o Conselho Nacional de Direito Autoral, do Ministério da Cultura (MinC), participando também de comissões de Divulgação Autoral  De 1987 a 1989, atuou como Secretário da Cultura do Estado da Bahia, e como presidente dos "Fóruns Nacional de Secretários da Cultura e Estadual de Cultura". Neste mesmo ano editou os livros "Confissões de Narciso", pela Editora Civilização Brasileira e "Balança Mas Hai Kai", pela Editora BDA. Em 1990, a convite da produtora Marina Barreto e da idealizadora e diretora Solange Kafuri, participou do projeto "Poeta, Mostra a Tua Cara", tendo como convidados especiais Gilberto Gil, Paulinho da Viola e Geraldo Azevedo, no Rio Jazz Club, na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. No ano de 1995, relançou do pela Editora Civilização Brasileira, "Inquisitorial", com orelhas escritas por Ênio Silveira e ensaio crítico introdutório de José Guilherme Merquior, escrito em 1968 e publicado no livro "A astúcia da mímese" em 1969. No ano seguinte, em 1996, publicou "Uma canção de amor às árvores desesperadas", livro de poemas. Neste mesmo ano, de 1996, apresentou-se no projeto "Fala, Poeta", acompanhado pelo grupo Confraria da Bazófia, em Salvador, Bahia. Publicou também "Signo de Navegação Bahia e Gente" e "Estrela do Norte, Adeus".


Capinam e Geraldo Azevedo




CONFISSÕES DE NARCISO


Que pensará meu pai de mim agora
E dele que poderei pensar
Eu que pensando nele
Tanto gostaria de saber o que pensa de mim agora?
(Não será essa a última hora da confissão
Nem a primeira hora do nascimento)
Mas que pensaria meu pai ao me ver chorar?
Que pensaria minha mãe
Me vendo agora beijar outras bocas, outros seios, a
procurá-la como alimento?
Sei que jamais saberei o que se passou naquele
momento
Como não sei quase o que se passa agora
Lá fora a noite é cheia de compromissos
E eu, omisso, gravo aqui meus sentimentos
Guardado talvez de mim, guardado talvez dos outros
E querendo estar tão absorto
Que jamais soubesse como lá fora a noite se eterniza
em nunca e jamais
Jasmins exalam
Flores crescem durante a noite e durante a noite
despetalam
Indiferentes ao fato de que pela manhã lhes
arrancarão o talo
E eu por que falo?
Por que não escrevo, por que não beijo?
Porque não caço o inexistente poema, borboleta
imaginária?
Minha mãe sempre me pareceu generosa e perdida
Sempre me pareceu absorvida e mal amada
Uma vida doada para nada
E meu pai sempre me pareceu estrangeiro
Como todos os pais
Eu sequer por furto tive dele um sorriso
Nem a mão por compromisso de andar até o outro
lado da rua
Minha vida foi sempre nua desde o primeiro dia
E sequer me alivia
E sequer eu quero que alivie
Sequer eu quero que passe a vida
Sequer eu quero que continue
Eu quero apenas despir-me
(Embora já esteja tão despido)
E quisera então quem me possuíra
Ai quisera somente dizer estas mentiras
Para quem cresse em mentiras
E pudesse vê-las mais verdadeiras que as verdades que
são ditas
Na casa ao lado há conversas mais sérias que poesia
Há um plano de recuperar as moedas, as finanças, a
pátria, deus e a família
Tudo que é falido desde o começo
Mas eu de tudo também participo
E até em meu endereço chegam as cartas e o telefone
toca
(Serão avisos?)
Deveria estar num comitê que discute o amanhã
E as outras políticas do amanhã
Mas eu sequer desejo sair da cama
Quisera somente beijos, desses que não se proclamam
Beijos talvez cruéis, que se derramam sequer da boca e
sangram
E também quisera que o meu desejo
Não escapasse enquanto fosse o meu desejo
E atendesse ele próprio ao que deseja
Não me usasse para atendê-lo (ele que tanto me
reclama)



 

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